terça-feira, 28 de agosto de 2012


segunda feira blues
a vida no maior sufoco
e os caras de papo furado

Além do silêncio, é preciso estar com a cabeça vazia para ouvir os próprios passos. Não é comum. Seria insuportável ouvi-los sempre. Dar-se conta de cada piscada de olhos, ser consciente da escura fração de segundo cada vez que a pálpebra desce para lubrificar o globo ocular, fragmentaria tudo que vemos. Quebraria para sempre tudo que queremos unir.

É preciso ignorar algumas coisas para conhecer outras. Vale o mesmo para os sentimentos. "Sentir tudo com intensidade total" são palavras que ficam bem em livros do século XIX ou canções dos anos 60; na vida real, a tradução pode ser "não sentir nada".

Mas estados de hipersensibilidade ou sensibilidade embotada (opostos que dão na mesma) às vezes pintam. Há que lidar com eles. Para mim, eles costumam acontecer no fim dos ciclos, quando o cansaço  acumulado - que era contido pela excitação do vir a ser - cobra seu preço.

Datilografo este texto e ouço o barulho das teclas. Não é comum. Seria insuportável ouvi-lo sempre. Estou naquele (neste) estado em que tudo parece falar alto demais. Por sorte, tenho um mantra salvador que me redime. Quase uma oração. Num misto de desabafo e súplica, exclamo mentalmente: “Chato pra caralho!”. Pronto, descarrego. Alívio imediato.

Não bastam as palavras, o ritmo também é importante: ênfase nas consoantes, um "ch" longo, pausa dramtática depois do "a", desfecho percussivo como patas de cavalos velozes em tonalidade descendente. Mais ou menos assim: “Chhhhhhhá - - Topaca - Ralho!”.

Mensalão, futebol, mesa redonda?
Chhhhhhhá - - Topaca - Ralho!
Telefone, email, menu?
Chhhhhhhá - - Topaca - Ralho!
Gracinhas na TV, candidatos a vereador?
Chhhhhhhá - - Topaca - Ralho!
Hotel, aeroporto, solos de guitarra?
Chhhhhhhá - - Topaca - Ralho!
Gente fina, sorriso, cara mala, chororô?
Chhhhhhhá - - Topaca - Ralho!
Beijinho, rockinho, diminuitivinhos?
Chhhhhhhá - - Topaca - Ralho!
Filmão, sonzão, vamo tirar o pé do chão?
Chhhhhhhá - - Topaca - Ralho!
Perguntas, cobranças, planos, promessas,
juras de amor, camaradagem de elevador?
Chhhhhhhá - - Topaca - Ralho!

Nem tudo é chato pra caralho. Dizer “tudo” é morrer. O mantra ajuda a chegar às coisas que nunca são chatas pra caralho: um par de olhos, um por do sol... 
...um abraço
28ago2012.


bah 1: Nietzsche deve ser o pensador mais mal citado da história, se tal rankinghouver. Os gênios causam este efeito colateral: dão a impressão de que é fácil repetir seus feitos. Por isso há um bando de bandas guinchando inspiradas no Led Zeppelin; um monte de barrigudos sentindo-se Federer no fim de semana.

Numa livraria de aeroporto me assustei com o título: “Nietzsche Para Estressados”. Estão de sacanagem!

“Quando Nietzsche Chorou” é mesmo de chorar. Ele choraria se visse, êta filme ruim! Não sei se a culpa é do livro que o originou; intuo que não seja.

Quando eu estava na faculdade, o rádio-relógio me acordava muito cedo. O sono e o silêncio eram interrompidos por um programa de notícias e variedades. No encerramento, o locutor lia um pequeno texto motivacional que sempre terminava com as palavras “sim à vida”. Segundo ele, o bordão era inspirado no velho Friederich. Às 7 da manhã?!? Nietzsche numa rádio AM de POA?!? Sei...

bah 2: Paro de escrever por um isntante. O pensamento voa. O screen saver entra em ação. Por um momento a tela fica escura. Reflete meu rosto. Eu, Chhhhhhhá - - Topaca - Ralho!

bah final: Sempre quis terminar um texto com um emoticon:

=)

Via: Humberto Gessinger.. 
BloGessinger.
O cara é demais mesmo. Admiração sem tamanho.
Concordo em genero, numero e grau.

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