- Ah, foda-se, preciso tirar da boca o gosto
amargo da noite. Nem que seja com o gosto amargo das palavras que o autor quer transmitir.
- Esse lance da “razão”, cara, é só uma das
cartas na mão. Pode até ser o ás de espadas; mas o coringa certamente ela não é!
Ah, não é mesmo! Mesmo que fosse, ainda assim seria só mais uma carta no
baralho.
- Em qualquer papo, o último a abandonar a
racionalidade sai por cima. Mesmo que esteja blefando. E tô pra te dizer que é o
que sempre acontece. Blefe. O último a abandonar a razão também abandona a
razão. Dããã!
- Todos abandonam. Cedo ou tarde a
racionalidade nos deixa na mão. Poker. É tudo um jogo. O rei, a dama, o
coringa, é só papel. Origami. Tigres de papel.
- Né?
- Pô, você tá quieto, não diz nada. Tá me
ouvindo? Ôw!
- Hein?
- Tá me ouvindo, cara?
- Pô, foi mal: eu tava de
fone.
- PQP! (rsrsrsrsrs)
- Que é?
- Ah, nada não.
- Falaí!
- Tava dizendo que a razão é uma estrada. Ela
começa toda bacana, asfalto lisinho, uma Autobahn. Aí vão pintando
buracos e quando a gente se dá conta, tá atolado no barro. E se seguir, vai
acabar abrindo picada com facão na selva fechada. Mais pra frente, até o facão
dança, só sobra a selva. Fechada. A estrada foi pro saco. Tudo acaba em dogma. A
razão só vai até ali. Quer dizer, para uns tudo já começa em dogma. Já não sei
quem tem razão, quem começa ou quem acaba no dogma. Eu falei “tem razão”?
- Hein?
- Tá de fone de novo,
mané?
- Ah, agora cochilei. Foi
mal.
- Já notou que, quando a gente tira um dos
fones o som baixa muito mais do que 50%.
- O quê?
- Quando a gente tira o fone de um só ouvido, o
som fica mais baixo do que a metade, já sacou?
- Grande merda, e daí?
- Seguinte: o som de cada fone (left e right) é
o lance objetivo, a realidade. Quando a gente coloca os dois, o cérebro entra no
jogo e cria um troço maior do que a realidade, uma soma maior do que as partes –
e isto é subjetivo.
- Rá! Te deixei quieto!
(rsrsrsrsrs)
- Sem comentários.
- O que você tava ouvindo aí?
- Hein?