terça-feira, 31 de julho de 2012

sempre que a segunda-feira vira terça.

- Porra, cara, quase 5 da manhã! Eu não devia estar lendo um livro. Aí é que o sono não vem!
 

- Ah, foda-se, preciso tirar da boca o gosto amargo da noite. Nem que seja com o gosto amargo das palavras que o autor quer transmitir.

 

- Esse lance da “razão”, cara, é só uma das cartas na mão. Pode até ser o ás de espadas; mas o coringa certamente ela não é! Ah, não é mesmo! Mesmo que fosse, ainda assim seria só mais uma carta no baralho.

 

- Em qualquer papo, o último a abandonar a racionalidade sai por cima. Mesmo que esteja blefando. E tô pra te dizer que é o que sempre acontece. Blefe. O último a abandonar a razão também abandona a razão. Dããã!

 

- Todos abandonam. Cedo ou tarde a racionalidade nos deixa na mão. Poker. É tudo um jogo. O rei, a dama, o coringa, é só papel. Origami. Tigres de papel.

 

- Né?

 

- Pô, você tá quieto, não diz nada. Tá me ouvindo? Ôw!

- Hein?

- Tá me ouvindo, cara?

- Pô, foi mal: eu tava de fone.

- PQP! (rsrsrsrsrs)

- Que é?

- Ah, nada não.

- Falaí!

- Tava dizendo que a razão é uma estrada. Ela começa toda bacana, asfalto lisinho, uma Autobahn. Aí vão pintando buracos e quando a gente se dá conta, tá atolado no barro. E se seguir, vai acabar abrindo picada com facão na selva fechada. Mais pra frente, até o facão dança, só sobra a selva. Fechada. A estrada foi pro saco. Tudo acaba em dogma. A razão só vai até ali. Quer dizer, para uns tudo já começa em dogma. Já não sei quem tem razão, quem começa ou quem acaba no dogma. Eu falei “tem razão”?

- Hein?

- Tá de fone de novo, mané?

- Ah, agora cochilei. Foi mal.


- Já notou que, quando a gente tira um dos fones o som baixa muito mais do que 50%.

- O quê?

- Quando a gente tira o fone de um só ouvido, o som fica mais baixo do que a metade, já sacou?

- Grande merda, e daí?

- Seguinte: o som de cada fone (left e right) é o lance objetivo, a realidade. Quando a gente coloca os dois, o cérebro entra no jogo e cria um troço maior do que a realidade, uma soma maior do que as partes – e isto é subjetivo.

 

- Rá! Te deixei quieto! (rsrsrsrsrs)

- Sem comentários.

 

- O que você tava ouvindo aí?

- Hein?

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